Custo de produção intensifica crise no setor de
suínos.
Alto custo dos grãos e dificuldade no abastecimento do farelo
de soja preocupam
suinocultores em todo o país
A crise
que assola ao setor de suínos ganhou proporções ainda mais dramáticas na última
semana. O aumento no preço do farelo de soja repercutiu negativamente para a
suinocultura de todo o país. Considerada a commodity mais valorizada ao longo de
2012, a alta do preço do farelo amarelo, está superando a do petróleo e a do
ouro.
No
estado do Paraná a tonelada do produto atingiu recordes nunca antes
contabilizados pelos produtores de suínos. "O suinocultor está pagando para
exercer a atividade", desabafa o suinocultor da região de Toledo/PR, Deoclides
Bezoin. Segundo ele, os valores de compra do farelo de soja atingiram nessa
semana R$ 1.450 a tonelada. “Desde 1975 o preço do farelo nunca esteve tão
elevado. Nossa maior preocupação é saber se ainda existe farelo de soja para os
próximos 3 meses”. No estado, o valor do custo de produção já chega a R$ 2,82 o
quilo, em média 90 centavos de prejuízo por animal comercializado. “O governo
precisa fazer uma pesquisa para saber o quanto ainda existe de soja no país.
Este é um caso de segurança nacional, pois não está certo exportar tudo e não
deixar o suficiente para a sobrevivência da nossa produção”, desabafa
Bezoin.
O
mesmo cenário se repete nos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Minas
Gerais. No Mato Grosso, os custos com a aquisição do insumo para alimentar os
animais cresceu 100% entre 2011 e 2012. Em Rondonópolis, a 218 quilômetros de
Cuiabá, a última semana foi de preços recordes para o farelo, na ordem de R$ 1,2
mil por tonelada. Fato jamais constatado, segundo produtores de suínos da
região.
Na
cidade de Pará de Minas, situada a 73 km de Belo Horizonte, os valores de compra
do farelo de soja também atingiram níveis recordes. Segundo o coordenador de
suprimentos da Cooperativa dos Granjeiros do Oeste de Minas (Cogran), Carlos
Alberto França, os custos de produção do quilo do suíno já atingem R$ 3,10. Na
região, o farelo de soja está sendo comercializado a R$ 1,32 mil a tonelada. “A
dificuldade de se produzir está cada dia maior. Além dos preços exacerbados, o
governo exportou muito e não deixou quase nada para os produtores. Está difícil
achar a quantidade suficiente de milho e soja no país e sem isso é impossível
produzir”, reforçou o coordenador que também é produtor de suínos.
Na
região sul, o problema também já reflete nas granjas de suínos. No noroeste do
Rio Grande do Sul a tonelada de farelo de soja está sendo vendida por R$ 1, 28
mil a tonelada e o milho a 33 reais a saca. “Está praticamente impossível
continuar produzindo suíno no Brasil. O governo abre todas as portas para a
exportação de grãos e não pensa no que é feito aqui no país sem a soja e o
milho”, protesta o suinocultor e proprietário da Suinocultura Acadrolli, Sady
José Acadrolli,
Por
essa razão, a ABCS acredita não haver outra forma de ajudar o produtor de suínos
independente que não seja a subvenção por parte do governo federal da diferença
entre o preço de venda do kg do suíno vivo e o custo de produção determinado
pela Conab e/ou Embrapa nas diversas regiões produtoras, pelo menos até o limite
de R$ 60 centavos por kg. “Dessa forma, o produtor que hoje conta com 80 reais
ou 100 reais de prejuízo reduziria o seu prejuízo para 20 reais ou 40 reais, na
esperança de uma melhoria no mercado de preços dos insumos e de venda do seu
produto”, explica o presidente da ABCS, Marcelo Lopes.
Segundo
levantamento da entidade, para que haja equilíbrio na atividade, é preciso que o
valor de comercialização do quilo suíno vivo compre 3,5 quilos de farelo de
soja. Atualmente, o produtor vende 1 quilo e compra apenas 1,5 quilo de farelo
de soja.
Perspectivas
A
inflação dos grãos medida pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M)
continuará acelerando no curto prazo, em razão do aumento do preço do óleo
diesel e, sobretudo, dos problemas climáticos nos Estados Unidos, que pressionam
a formação dos preços de grãos, como soja, milho e trigo. A análise é do
coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), Salomão Quadros em entrevista para o Valor
Econômico.
“Por
hora, observamos impactos fortes na soja e em outros grãos. Não se sabe se o
efeito da seca nos Estados Unidos chegou ao pico, porque não se sabe a extensão
dos problemas por lá”, afirmou.
Com
o resultado de julho, a soja acumula, neste ano, alta de 57,18%, ao passo que o
farelo da soja registra avanço de 69,64%. “O ano da soja tem sido complicado.
Tivemos seca no Sul do Brasil, na Argentina, e temos agora nos Estados Unidos.
No primeiro semestre, ainda pesou a valorização do dólar, fator que não
influenciou em julho”, disse.