quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Custo de produção intensifica crise no setor de suínos.



Custo de produção intensifica crise no setor de suínos.

Alto custo dos grãos e dificuldade no abastecimento do farelo de soja preocupam suinocultores em todo o país
A crise que assola ao setor de suínos ganhou proporções ainda mais dramáticas na última semana. O aumento no preço do farelo de soja repercutiu negativamente para a suinocultura de todo o país. Considerada a commodity mais valorizada ao longo de 2012, a alta do preço do farelo amarelo, está superando a do petróleo e a do ouro.
No estado do Paraná a tonelada do produto atingiu recordes nunca antes contabilizados pelos produtores de suínos. "O suinocultor está pagando para exercer a atividade", desabafa o suinocultor da região de Toledo/PR, Deoclides Bezoin. Segundo ele, os valores de compra do farelo de soja atingiram nessa semana R$ 1.450 a tonelada. “Desde 1975 o preço do farelo nunca esteve tão elevado. Nossa maior preocupação é saber se ainda existe farelo de soja para os próximos 3 meses”. No estado, o valor do custo de produção já chega a R$ 2,82 o quilo, em média 90 centavos de prejuízo por animal comercializado. “O governo precisa fazer uma pesquisa para saber o quanto ainda existe de soja no país. Este é um caso de segurança nacional, pois não está certo exportar tudo e não deixar o suficiente para a sobrevivência da nossa produção”, desabafa Bezoin.
O mesmo cenário se repete nos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Minas Gerais. No Mato Grosso, os custos com a aquisição do insumo para alimentar os animais cresceu 100% entre 2011 e 2012. Em Rondonópolis, a 218 quilômetros de Cuiabá, a última semana foi de preços recordes para o farelo, na ordem de R$ 1,2 mil por tonelada. Fato jamais constatado, segundo produtores de suínos da região.
Na cidade de Pará de Minas, situada a 73 km de Belo Horizonte, os valores de compra do farelo de soja também atingiram níveis recordes. Segundo o coordenador de suprimentos da Cooperativa dos Granjeiros do Oeste de Minas (Cogran), Carlos Alberto França, os custos de produção do quilo do suíno já atingem R$ 3,10. Na região, o farelo de soja está sendo comercializado a R$ 1,32 mil a tonelada. “A dificuldade de se produzir está cada dia maior. Além dos preços exacerbados, o governo exportou muito e não deixou quase nada para os produtores. Está difícil achar a quantidade suficiente de milho e soja no país e sem isso é impossível produzir”, reforçou o coordenador que também é produtor de suínos.
Na região sul, o problema também já reflete nas granjas de suínos. No noroeste do Rio Grande do Sul a tonelada de farelo de soja está sendo vendida por R$ 1, 28 mil a tonelada e o milho a 33 reais a saca. “Está praticamente impossível continuar produzindo suíno no Brasil. O governo abre todas as portas para a exportação de grãos e não pensa no que é feito aqui no país sem a soja e o milho”, protesta o suinocultor e proprietário da Suinocultura Acadrolli, Sady José Acadrolli,
Por essa razão, a ABCS acredita não haver outra forma de ajudar o produtor de suínos independente que não seja a subvenção por parte do governo federal da diferença entre o preço de venda do kg do suíno vivo e o custo de produção determinado pela Conab e/ou Embrapa nas diversas regiões produtoras, pelo menos até o limite de R$ 60 centavos por kg. “Dessa forma, o produtor que hoje conta com 80 reais ou 100 reais de prejuízo reduziria o seu prejuízo para 20 reais ou 40 reais, na esperança de uma melhoria no mercado de preços dos insumos e de venda do seu produto”, explica o presidente da ABCS, Marcelo Lopes.
Segundo levantamento da entidade, para que haja equilíbrio na atividade, é preciso que o valor de comercialização do quilo suíno vivo compre 3,5 quilos de farelo de soja. Atualmente, o produtor vende 1 quilo e compra apenas 1,5 quilo de farelo de soja.
Perspectivas
A inflação dos grãos medida pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) continuará acelerando no curto prazo, em razão do aumento do preço do óleo diesel e, sobretudo, dos problemas climáticos nos Estados Unidos, que pressionam a formação dos preços de grãos, como soja, milho e trigo. A análise é do coordenador de análises econômicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), Salomão Quadros em entrevista para o Valor Econômico.
“Por hora, observamos impactos fortes na soja e em outros grãos. Não se sabe se o efeito da seca nos Estados Unidos chegou ao pico, porque não se sabe a extensão dos problemas por lá”, afirmou.
Com o resultado de julho, a soja acumula, neste ano, alta de 57,18%, ao passo que o farelo da soja registra avanço de 69,64%. “O ano da soja tem sido complicado. Tivemos seca no Sul do Brasil, na Argentina, e temos agora nos Estados Unidos. No primeiro semestre, ainda pesou a valorização do dólar, fator que não influenciou em julho”, disse.


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